sábado, 27 de julho de 2013

Uma casa, pra fugir.

Eu tentei me comunicar. Era em vão. Eu não tinha créditos, ele também não e mesmo assim eu insistia. Coloquei Clarice pra tocar, foi como abrir uma fenda no estômago e tirar todas as borboletas de lá. Eu fazia de tudo pra chamar sua atenção. Eu poderia fugir, brigar com minha mãe, pegar as coisas e dar no pé. Eu faria tudo pra sair de casa e nunca mais voltar.
Era um sentimento de desespero, desapego, de distância. Há muito tempo eu não aguentava mais ficar alí. Mas o que poderia fazer?! Ir embora, pobre, sozinha, com a roupa do corpo, a cara e a coragem? Eu tinha que ficar, enfrentar o sentimento ruim (não era ódio, nem raiva, eu só estava cansada) que eu guardava pela minha mãe e esperar. Esperar um emprego, esperar a maioridade, esperar a liberdade. Esperar minha vida realmente acontecer.
Eu não tinha mais amigos a quem confiar. Eu não sabia me abrir com qualquer um. Eu só tinha ele e ele resolvera não me ajudar. Não era bem assim. É, que simplesmente, eu entendi que nosso relacionamento não seria como eu queria. Ele não era uma pessoa carinhosa, dedicada demais, paciente e que estava alí, comigo, o tempo inteiro. Eu era assim, eu acho. Mas nem tudo é como a gente quer, né? Mas, mesmo assim, eu só tinha ele. Ele teria que me ajudar.
Sentei. Chamei. Desabafei. Ele escutou. Calado, mas com atenção. Olhava minhas feições, minhas lágrimas ousaram aparecer e eu as freei. Era demais chorar. Agora não era hora. Por fim, parei. Ele olhou pra mim como quem olha pra uma criança, afagou meus cabelos e me encostou em seu peito. Sua blusa cheirava ao perfume que eu dera e que combinara tanto com sua pele quanto chocolate combina com sexo. Era um cheiro provocante, inebriante e sedutor. Ele me acalmava e resolvi deixar as lágrimas trasbordarem. Elas rolaram pelo meu rosto, molharam sua blusa e ele nem ligou. Me acalmei, parei e perguntei: "Vamos fugir?" Ele só respondeu: "Ah, como eu queria ganhar na loteria!" Confusa, duvidei: "E como isso ajudaria?" Ele apenas disse: "Eu compraria uma casa e tiraria você daqui. Poderíamos ficar juntos sempre que quiséssemos, ninguém iria impedir. E, o melhor, não precisaríamos dar satisfação a ninguém."
Imaginei nós dois, numa casa pequena, de paredes brancas com detalhes de outra cor. Um quarto, só nosso com uma cama enorme. Seria só nós dois e todo o meu sonho se realizaria. Era só o que eu precisava ouvir. "É bom você começar a jogar, então." Me beijou a testa e riu. Riu doce e do jeito que apenas ele sabia rir.

Nenhum comentário:

Postar um comentário